Quando olho para o meu filho
Guto Maia*
* Coluna publicada em 04 de setembro de 2020, na Revista Reação Edição 133, agosto/setembro, pág. 43
Quando olho para o meu filho*
26/08/2020 (Read in English)
A capacidade de indignação exacerba-se quando ofendem os nossos filhos.
Os valores sociais sempre correm o risco de resvalar na hipocrisia, na demagogia ou no sentimentalismo barato ao falar de pessoas com deficiências e vulneráveis. Ao discorrer sobre o assunto, sempre corremos o risco de sermos mal interpretados. É difícil sermos isentos. Mas, quem tem experiência de ao menos uma década nesse universo, sabe como os pais aprendem a lidar com a hipocrisia, a demagogia, o falso moralismo; como suportam calados o desprezo, o preconceito, e tanta insensatez falada sobre seus filhos.
Mas, há momentos, em que precisamos falar.
Eu olho para o meu filho autista, e não posso admitir que ele possa morrer por ser bundão!
Penso nos meus alunos com deficiências, amigos, e todos que não resistiram nos últimos 6 meses. Só no Brasil, são mais de 115 mil pessoas. E as suas famílias, como estão?
Sei que tenho que tentar fazer alguma coisa. Indignar-me é a única coisa que resta?
Há algum valor na indignação de um professor que não é mais atleta, que não sabe usar uma arma pra se defender, cujas únicas armas são uma caneta Bic e um laptop?
Retórica e dialética são as nossas munições. É pouco e é o que nos resta.
Isso tudo é apenas o desabafo de um entre milhões que perderam os seus sonhos, perderam empregos, perderam os seus projetos de vida, perderam pessoas que as amavam e perderam, mais do que tudo e acima de tudo, o direito de serem respeitados como cidadãos pensantes que acreditam em princípios, cuja primeira atitude sempre foi a de acreditar em combinados e procurar respeitar leis que não fossem esdrúxulas.
Quando vemos que muitos se aproveitaram desse caos e do desespero social para enriquecer, a indignação faz com que duvidemos dos valores da honestidade e moralidade humanas mais fundamentais, que passam pela índole e pelo caráter duvidoso.
Quanta ingenuidade, não? Somos todos hipócritas e demagogos quando pensamos assim? Não, somos bundões mesmo! Eles estão certos.
Tento imaginar o que as nossas “Floras”, “Pedros”, “Pietras”, “Lorenzos”, seus filhos e netos (quando e se os tiverem); - pensarão de nós no futuro. Que legado de indignidade deixaremos para eles, quando superarem essa travessia insana? Certamente, não estaremos mais aqui para assistir o que eles farão com o que aprenderam dessa lição que a natureza e os nossos líderes nos impõem.
Talvez, a lembrança que eles tenham de nós, seja apenas a de seres ingênuos, sem“expertise” e sem forças para tirar vantagens de um momento histórico onde só os fortes sobreviveram. Eles estarão certos. Assim como estão certos os que pensam que somos bundões hoje. Eles também estão certos. Ao lavarmos as mãos, estamos escrevendo os erros do futuro.
Mas, a tinta dessa caneta tem poder. Ela ainda tem a força, pelo menos, de poder escrever este ingênuo desabafo.
*Guto Maia - José Augusto Maia Baptista
Gestor educacional
@filhos @son
PESQUISADORES RESPONSÁVEIS / FUNDADORES 1a. Escola do Pensamento Fora do Padrão Prof. Guto Maia (José Augusto Maia Baptista) (Linktree: https://linktr.ee/prof.gutomaia) ID Pesquisador ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5694-4460 Pedro Rosengarten Baptista (Linktree: https://linktr.ee/pedrorosengartenbaptista) ID Pesquisador ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3394-8634 Membros Comunidade de Talentos ONU |
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